Kant e a Moral

A moral de Kant pode ser lida, principalmente, a partir de duas grandes obras (i) A Metafísica dos Costumes e (ii) Crítica da Razão Prática. Kant busca, após a Crítica da Razão Pura, fundar uma ciência a priori da conduta e da moral, respondendo assim à pergunta: O que devo fazer?

Índice

1 Kant e a boa vontade – a pureza das intenções

2 Kant e os imperativos

3 Fórmulas do imperativo categórico

4 Conclusão:

 

1 Kant e a boa vontade – a pureza das intenções:

Kant parte do conceito de “boa vontade”. Para o filósofo alemão, inteligência, coragem, etc., não são coisas absolutamente boas. Seu valor depende do uso que se faz delas. O mesmo acontece com a felicidade: ela não é um bem em si, pois pode ser uma fonte de corrupção se a pessoa não for animada pela boa vontade.

O que é uma boa vontade? Não é uma vontade que atinge seus objetivos, é uma vontade cujas intenções são puras. O que é uma vontade pura? Uma vontade que obedece ao conceito de dever. Assim, a boa vontade está agindo por dever.

Kant distingue entre agir de acordo com o dever e agir por dever. Assim, o comerciante que atende lealmente seus clientes age de acordo com o dever, mas seus motivos são de interesse próprio, não de dever. Este tipo de ação enquadra-se na legalidade, não na moralidade. A moralidade designa uma ação feita com a intenção de cumprir o dever:

“Uma ação realizada por dever deriva seu valor moral não do fim que deve ser alcançado por ela, mas da máxima segundo a qual é decidida”.

O formalismo de Kant na moralidade refere-se à ideia de que basta que se aplique uma regra para ser moral. Essa regra é a da universalidade: posso universalizar a máxima de minha ação?

Então, se eu me pergunto se mentir é moral, minha pergunta é: a mentira pode ser adotada como um valor universal? A resposta é, claro que não. Isso porque, a verdade perderia todo o valor, e então seria inútil mentir.

2 Kant e os imperativos:

Kant quer voltar à origem a priori (fora da experiência) do fundamento da moralidade, porque pode ser que nenhum ser tenha agido por dever no mundo. Empirismo e moralidade andam muito mal juntos: o primeiro não consegue estabelecer o segundo.

Imperativos hipotéticos

Os imperativos hipotéticos representam uma ação necessária para alcançar um determinado fim. O princípio deles é: quem quer o fim quer os meios. Por exemplo: os imperativos de habilidade, que prescrevem os meios úteis para se obter um resultado, são hipotéticos. Como aqueles de cautela. Esses imperativos fornecem regras.

Imperativos categóricos

Para Kant, os imperativos categóricos se distinguem por postularem uma ação como necessária e incondicional, independentemente, do fim a ser alcançado. Esses imperativos dão leis, qualquer que seja a inclinação do sujeito.

Há, portanto, apenas um imperativo categórico, e sua fórmula geral é esta:

“Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal”.

3 Fórmulas do imperativo categórico:

1/ “Age como se a máxima da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da natureza”.

Por exemplo, não se pode querer cometer suicídio e tornar esse ato uma lei da natureza porque isso destruiria a humanidade. O suicídio é, portanto, imoral. Agora, o que é imoralidade? É considerar-se exceção, conceder-se privilégios. E, mesmo quando agimos contrariamente ao dever, sabemos onde está o nosso dever. Não respeitamos a lei moral neste caso, mas permanece aplicável para todos nós.

2/ “O princípio subjetivo do desejo é o móvel, o princípio objetivo do querer é o motivo”.

Desejamos coisas e respeitamos as pessoas, segundo Kant. Assim, as coisas têm valor para nós, enquanto as pessoas têm valor absoluto, não relativo. O sujeito é um fim em si mesmo:

“Aja de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio”.

Quem comete suicídio se trata como um meio, não como um fim em si mesmo.

3/ Estas duas fórmulas criam uma terceira, instituindo o homem como autor da moral: “Aja de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas”.

A vontade é de fato autônoma, ela dá a si mesma sua lei. Obedecemos à lei moral porque damos a nós mesmos essa lei.

4 Conclusão:

Podemos resumir a moral de Kant assim: da lei moral deriva a dignidade da pessoa. Porque, dando-se a si mesmo a sua lei, o homem tem uma dignidade, isto é, um valor intrínseco e não um preço. “A autonomia é, portanto, o princípio da dignidade da natureza humana e de toda a natureza razoável”.

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