A Filosofia de Espinoza

Espinoza, o filósofo da natureza e das paixões humanas

 

Índice

1 Espinoza, filósofo da natureza e das paixões humanas

2 Espinoza e o método geométrico

3 Espinoza e a natureza humana: desejo e paixões

4 Espinoza, Virtude e Sabedoria

5 Espinosa e a Política

6 Conclusão sobre a filosofia de Espinoza

7 Principais obras de Espinoza

 

1 Espinoza, filósofo da natureza e das paixões humanas

Baruch Espinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês. Rejeitando qualquer transcendência divina, Espinoza identifica Deus e a Natureza. A sabedoria é o amor intelectual do verdadeiro Deus, imanente no real. Espinoza é considerado pelos historiadores da filosofia um cartesiano, ou seja, um discípulo de Descartes.

2 Espinoza e o método geométrico

A Ética (principal obra de Espinoza) é apresentada como um tratado de geometria: de definições, axiomas e postulados, segue-se uma série ordenada de teoremas, demonstrações e corolários.

Esta forma geométrica, longe de ser desnecessária, manifesta o desejo do filósofo de proceder rigorosamente, como fazem os matemáticos.

Espinoza procura expressar, na Ética, de forma objetiva, a essência fundamental de todas as coisas. Quanto a este título “Ética” não deve nos enganar. A ética não designa a moral no sentido próprio do termo, mas, o verdadeiro conhecimento do verdadeiro Deus, imanente no mundo, a ciência prática do que é.

Qual é? Uma única substância, absolutamente infinita, da qual somos apenas modos. O Deus de Espinoza, objeto da Ética, nada tem a ver com o da religião judaico-cristã, princípio transcendente do mundo.

É necessário, de fato, expulsar qualquer representação antropomórfica do divino. Deus nada mais é do que um Ser absolutamente infinito, composto de uma infinidade de atributos, uma única Substância (a Substância designando o que é em si e por si concebido). Deus se identifica com esta Substância. Designa a totalidade da realidade ou Natureza, entendida como a unidade das coisas e o único Ser ao qual as realidades se relacionam: Deus sive Natura = Deus ou Natureza.

Os filósofos do Renascimento, como Giordano Bruno, sem dúvida impressionaram Espinoza por sua representação de uma natureza única e infinita. Esta é uma concepção “panteísta”, que encontramos na Ética, pelo menos onde entendemos por “panteísmo” uma doutrina que identifica Deus e a totalidade da realidade (este termo “panteísta” não deve ser atribuído a Espinoza, pois ele apareceu no início do século XIII).

Nesta substância única, desta Natureza sendo uma com Deus, a inteligência humana apreende apenas dois atributos, Extensão e Pensamento, sendo o Atributo definido em Espinoza da seguinte forma: o que o entendimento percebe de uma substância como constituindo a sua essência.

A partir dessa perspectiva, o que representam os objetos particulares do mundo?

São modificações da Substância infinita que é a Natureza, ou seja, modos, isto é, afecções desta substância. Assim, cada criatura particular aparece como um modo de Deus, como sendo em outra coisa, por meio da qual é concebida.

Esta tripartição (substância-atributo-modo) permite-nos apreender o significado dos conceitos de “Natura Naturante e Natureza Naturada”:

  • Por Natura Naturante, Espinoza entende o próprio Deus, na medida em que é em si e concebido por si mesmo, como o produtor de toda a realidade.
  • Por Natureza Naturada, o filósofo entende tudo o que se segue na natureza de Deus e de seus atributos, tudo o que é produzido pela Substância enquanto está nela e por ela.

Tal sistema é rigorosamente determinístico: os infinitos atributos de Deus necessariamente produzem certos efeitos. Não há nada contingente na natureza:

  • A necessidade absoluta de que fala Espinoza na Ética tem este sentido: tudo é determinado pela Natureza divina a produzir um efeito.
  • A contingência, isto é, o que não pode ser, representa apenas um defeito de nosso entendimento, uma falta de conhecimento real.

3 Espinoza e a natureza humana: desejo e paixões

Dentro dessa doutrina, como entender a essência da natureza humana? Há em nós um elemento ativo, que Espinoza batiza de conatus:

  • O conatus designa o esforço pelo qual cada coisa, enquanto está nela, se esforça para perseverar em seu ser.
  • Ora, quando o conatus se torna consciente de si, chama-se desejo, que por isso se identifica com o “apetite” acompanhado da consciência de si.
  • Conatus e desejo correspondem à afirmação dinâmica do nosso ser.

Mas os desejos humanos podem ser modificados pela intervenção de causas externas. Sofremos, de fato, a ação de forças às quais estamos necessariamente ligados, pois fazemos parte da Natureza. Assim nascem as paixões, que são modificações passivas de nosso ser.

A alegria e a tristeza são as duas paixões fundamentais das quais derivam as outras paixões: a alegria é a passagem para uma perfeição maior, a tristeza, a passagem do homem para uma perfeição menor.

Para Espinoza, a vida humana é marcada pela triste procissão de tristes paixões (ódio, inveja, etc.).

  • Essas paixões reduzem o homem a um estado de servidão, isto é, de passividade.
  • Aí vem a filosofia, cujo papel é curar o homem de suas tristes paixões, torná-lo senhor de si mesmo.

4 Espinoza, Virtude e Sabedoria

A virtude, em Espinoza, nada tem a ver com o que se entende comumente. Ser virtuoso é adquirir o verdadeiro conhecimento de nossas paixões graças a ideias e noções adequadas.

Assim, o virtuoso é aquele que descobre o dinamismo que o anima, que lhe permite redescobrir o poder do conatus.

Ser virtuoso é conhecer a realidade, é acessar a plenitude da existência. Virtude e vida são, portanto, inseparáveis. O sábio é, portanto, aquele que acessa o conhecimento verdadeiro e com isso alcança a plenitude.

5 Espinosa e a Política

O sábio vive sob o domínio da razão. Dessa forma, o cidadão espinosista também encontra harmonia e unidade com seus semelhantes.

Assim, o Estado deve ser concebido racionalmente: só o Estado racional abre caminho para a liberdade, segundo as leis da natureza humana, ou seja, consciente da natureza infinita.

Espinoza é um democrata. A democracia designa um regime onde ninguém transfere o seu direito a outro e onde todos são iguais, uma cidade em que a liberdade de opinião é total. Assim toma forma o destino dos homens livres, vivendo sob o domínio da razão, numa cidade livre. Ao acessar o verdadeiro conhecimento, o homem torna-se novamente um Deus para o homem. A política de Espinoza se funde com sua Ética e a completa.

6 Conclusão sobre a filosofia de Espinoza

Baruch Espinoza é um pensador de sistemas, complexo e árido, permitindo ao homem libertar-se das suas ilusões e aceitar o seu lugar na Natureza. Mas a filosofia de Espinoza não é apenas intelectualista, ela tem um aspecto prático muito poderoso: a sabedoria é adquirida pelo conhecimento, a alegria é mantida pela busca de boas paixões. Assim o homem pode perseverar em seu ser.

7 Principais obras de Espinoza

– Breve tratado sobre Deus, o homem e sua felicidade (escrito em latim em 1661).

– Tratado sobre a reforma do entendimento (escrito provavelmente em 1661).

– Princípios da filosofia de Descartes (1663).

– Tratado teológico-político (1670).

– Tratado político (1673-1677).

– A Ética (publicado no ano da morte de Espinoza).

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